Então...

Então...gozado como sempre começo uma frase com a expressão “então...”...acho que é porque nunca sei direito o que falar, nunca sei como começar a me expressar, mesmo quando sei o que quero falar.
Nesse caso vamos falar sobre as férias... Merecidas férias depois de um ano que foi literalmente um ano de perdas. Sim, perdas. Perdi alguns entes queridos ao longo do ano, perdi uma chefa maravilhosa, perdi amigos e ex-amigos, perdi muita coisa que gostaria de não ter perdido, mas assim foi.
Por um certo lado, ao perdemos algo, podemos iniciar um novo ciclo, uma nova vida. E foi isso que decidi fazer após as férias, as merecidas férias...

Oficialmente tinha 20 dias de férias, mas por conta de horas acumuladas, acabei ficando 40 dias afastado do trabalho. Nesse tempo eu fiz várias coisas, li alguns livros, aprendi coisas novas e fiz uma pequena viagem ao litoral, que muito me serviu como um retiro, apesar de não ter o clima de retiro que literalmente se diz, mas vocês entenderão...

Viajar é ótimo, principalmente quando vamos para um local em que nos sentimos bem, que recarrega a nossa energia, que cura a alma. E no meu caso, isso foi possível. Fui novamente ver o mar, fui ao encontro do mar, do sol, do calor, do vento. Meu refúgio? Bertioga.
Sou e sempre fui e bem provável que sempre serei movido a energia solar, a calor e a água, e em Bertioga encontro os 3 elementos juntos, em uma união sagrada que só é possível sentir quando se pisa na areia fofa e o sol presente me aquece, a brisa me refresca e o mar me deixa sentir seu som mágico e encantador.
Nada é mais prazeroso do que sentir a água na pele, o calor a secando, a brisa te refrescando; nada me faz sentir mais vivo do que estar lá...

Uma semana em comunhão com o mar, uma semana longe de TV, internet, amigos, parentes, trabalho, inimigos, uma semana com os pensamentos fluindo na velocidade desejada, no momento desejado e quando eles desejassem aparecer.
E foram muitos pensamentos...

Passou pela minha cabeça o desejo de ser feliz, o desejo de ter alguém, o desejo de ser mais do que sou, e passou também o desejo de tudo isso ao contrário. Passou e passou, veio e voltou, e aposto como muitos já passaram por isso.
Me peguei pensando que estou em uma lacuna, em um limbo sem saber para onde ir, sem ver uma luz. Um limbo onde lá estava eu, só, gay, solteiro, com trabalho, com uma vida legal, com alguns bens materiais para viver bem, e só...e ao meu redor lá estavam os outros, com família, amigos, amantes, maridos, esposas, namorados e namoradas, filhos, genros, noras, velhice e juventude, todos lá em seus devidos lugares, indo e vindo, vivendo...e lá estava eu, no limbo, olhando...

O pensamento ia e voltava, voltava e ia, hora me sentia bem por estar ali, por estar aqui, hora me sentia como sendo o último ser na face da terra. Será que serei “A Lenda”??? Será que sou o último da minha espécie??? Ou será que sou uma espécie rara???
Enfim, não sei...o pensamento veio e voltou, veio e voltou e por fim, decidi parar de pensar. Parei, até surgir outro, porque pensar é assim, quando você pára, logo vem outro pensamento no lugar...

E na seqüência, não diária e nem muito menos horária, mas em uma seqüência lógica para a mente, alguns dias depois, me dei conta que não é fácil ser assim. Assim como podem me perguntar... Assim, gay...
O que é ser gay??? Muitos tem as respostas. Muitos sempre tem as respostas, certas ou erradas, mas muitos ainda não sabem o que é ser gay. E também não vou ser eu que irei definir o que é ser ou não ser, sem paródia, mas só sei que sou.
Sou, diferente de você e de você, e do outro também; todos somos, iguais e diferentes em muitas e em poucas coisas, mas somos.
O que me pegou forte, foi que será que quem não é, quem está de fora e sempre tem a resposta para tudo, sabe mesmo o que é ser gay e o que é ser gay? Será que sabem de nossas escolhas, de nossas angustias, de nossos medos, de nossos temores? Ou será que eles sabem só do que lhes interessa, do que lhe convém, do que é mais fácil taxar e criticar? Ou ainda, será que só sabem do que é clichê, do que é mentira, do que é menos importante? Ou ainda, será que quem está de fora sabem algo??? Sabe algo importante???
Eu sinceramente gostaria de saber. Gostaria de saber se todos acham que é fácil e divertido ser gay. Gostaria de saber se todos percebem que estamos em um vácuo, um limbo, muitas vezes emocional, muitas vezes racional, e muitas vezes que nos faz mal...
Sinceramente estou para tentar saber se tem algum ou alguém que saiba algo verdadeiramente verdadeiro e sincero...
Estou aqui, esperando, e nada mais.

E estou esperando mesmo, sem fazer mais nada, porque entendo quem entrega os pontos, e entendo quem acha que deve criticar quem entrega os pontos, pois ambos tem medo de encarar a verdade, ambos desejam a mesma coisa, de formas diferentes, mas ambos simplesmente desejam o mesmo final.
Entendo que acha que não vale mais a pena, quem decreta o ponto final, quem ao contrário fica a ladrilhar e ladrilhar o caminho esperando que a esperança sempre caminhe por ali, entendo quem deseje sempre o final feliz.
Entendo, porque de certo modo, de pouco em pouco, eu já fui todos, e ao mesmo tempo não fui nenhum. Já desejei, já esperancei, já critiquei, já contrariei, já desisti e já retornei.
Hoje??? Hoje eu tiro meu time de campo, entrego todas as fichas, mostro as cartas e ainda abro o resto do baralho. O caminho??? Ladrilhado, limpo, reto e muito bem iluminado e seguro. Se eu estou lá esperando no caminho??? Sim, esperando cheio de esperança com um enorme sorriso no rosto, bem arrumado, com mala pronta e chave do carro e da casa, pronto para seguir viagem. O roteiro??? Qualquer roteiro serve, desde que seja feito em segurança e com extrema felicidade, acompanhado de delicadeza, energia, confiança e lealdade. Se tem data de validade??? E alguém acha que validade tem data??? Ou a data é apenas para quem tem idade??? Idade é na cabeça, e a minha segue o resto de mim...

E hoje??? Bom, o hoje vai ser o ontem amanhã. E o amanhã será o depois de hoje, da mesma forma que o ontem já foi o hoje em um futuro que já se foi. Assim, termino esse texto com dois pontos...

Só sei que nada sei, mas desejarei saber algo apenas se o saber me acrescentar algo para o bem futuro dos outros, porque o saber para mim mesmo, não me importa.
E também deixo claro aqui que é bem provável que não volte mais a escrever neste blog. Não sei mais viver neste ambiente, não me satisfaz mais, e não acho certo fazer coisas que não me satisfazem; sendo assim, apesar da tentativa mais uma vez de voltar e pensar que tudo poderia ser como antes, o futuro não será igual ao passado; assim...fui.