Só observando...

Já tem algum tempo que não dou as caras por aqui...e a desculpa é sempre a mesma, minha vida é um novelo de problemas, eu fico enrolado entre muitos e muitos; as vezes me solto de um, mas logo sou abocanhado por outro...e no meio disso tudo, como a vida tem quem continuar, eu vou indo.

Nesse caminhar, meio tortuoso, eu fico por aqui, só observando. Até mesmo chego a dizer que sou como um coral...você sabe que ta lá, vivo, mas só consegue ver se chegar perto, porque se depender de mim, eu sou aquele amigo relapso, que usando a mesma desculpa acima, estou enrolado e não tenho tempo para nada.

E nessa de só observar, eu fico vendo cada coisa, cada comportamento que me faz refletir e repensar muitas questões pelas quais eu já passei...

Fico observando como as pessoas são solitárias, mesmo quando estão juntas. Que não mais se conversam a mesa, e sim conversam com quem está longe, de modo virtual, como se aquela pessoa que está na sua frente, não representasse nada, ninguém, e só tivesse valor se não estivesse ali e sim a quilômetros de distância.

Fico observando a amiga se queixar da mãe e do pai, sem nada fazer para mudar o comportamento que ela mesma tem, e que é justamente a causa das reclamações dos pais, as quais ela não gosta de ouvir. Afinal de contas, ela não gosta de ouvir não só o pais, ela não gosta de ouvir ninguém, a não ser ela mesma, e de nada adianta falar...então, eu só observo.

Vejo o amigo tentando ter uma relação, ou mostrando que tem uma relação, mesmo que essa relação tenha entre ele e o companheiro, a distância de 2 estados, 2 aeroportos, 3 rodovias, 1 ponte...e que essa mesma distância parece menor a cada vez que o telefone toca naquele dia pré-agendado, mesmo que o dia tenha sido cansativo e que ele queira dormir, a sensação de ouvir a voz do outro, faz com que tudo valha a pena....e deixa de fazer assim que o telefone é desligado, que o dia seguinte recomeça com a cama vazia, que a distância se mostra presente, que a visita do outro só virá no próximo feriado daqui a dois meses...

Fico vendo o outro amigo procurando carinho alheio nos braços de desconhecidos, nos frascos de perfume da coleção, nos jogos de vídeo game, nos lanches de final da tarde de domingo em minha companhia...fico vendo como a vida pode ser simples para quem acha que a vida nunca terminará, e para quem se contenta com pouco e nada mais...ainda mais se esse mesmo pouco for dado pela família...

E é claro, fico me observando, eu que lá estou ora atrás do balcão, ora a frente dele, ora como cliente, ora como proprietário, ora com aquele cara de quase 40 anos e mente de 23, que acha que ainda tem tempo para tudo, mas que quando se olha no espelho, o reflexo dos cabelos brancos demonstram claramente que boa parte já se foi...e dessa boa parte que se foi, uma grande parte não soube ser bem aproveitada...

Fico observando a vida passar, a água do mar ir e voltar e levar cada grão de areia e depositá-lo em outro lugar, em outra praia ou mesmo no fundo do oceano; fico vendo o sol se por, a tarde ir embora, a brisa fresca e quente se transformar em uma brisa fria; fico observando que tudo acontece....mas acho que algo, não mais acontecerá....